Carol Motta, mamãe de 1:
“Na minha cabeça surgiram pensamentos sobre o que eu poderia ter feito durante o pré-natal, o que eu deixei de comer, que vitaminas eu não tomei e quais erros eu cometi durante a gestação que poderiam ter causado isso. Eu assumi a responsabilidade pela condição do meu filho. Lembro-me de sair do consultório com ele nos braços, chorando, enquanto meu marido, calmo e tranquilo, dizia que íamos encontrar uma solução e que tudo ficaria bem. Ele me deu uma indicação para um especialista em fonoaudiologia, porque o atraso no desenvolvimento da linguagem foi o primeiro sinal. O comportamento do Benício não era de isolamento, o que é um dos indicadores comuns.”
“Quando o médico me deu um questionário e pesquisei no Google sobre os sintomas e indicadores, percebi que o isolamento e a falta de interesse em brincar funcionalmente com brinquedos eram características. No entanto, meu filho não apresentava esses indicadores. O que o Benício apresentava como indicadores do transtorno do espectro autista eram o atraso no desenvolvimento da fala e momentos em que ele não respondia quando era chamado. Não era um problema auditivo, pois ele vinha correndo quando ouvia uma música de um desenho que gostava, mesmo estando em outro cômodo da casa. Eu pensava que ele não respondia porque era uma questão de comportamento, que ele simplesmente não queria. Mas não era apenas isso. Agora consigo perceber que ele era um pouco indiferente quando eu me machucava e chorava, não vindo ao meu encontro para ver o que havia acontecido. Era como se nada tivesse acontecido.”
“Isso também pode ser considerado um indicador, uma certa indiferença ou distração em relação ao que estava acontecendo ao redor. No entanto, quando algo de seu interesse acontecia, ele prestava atenção. Esses foram os indicadores iniciais. Mas o que mais me incomodou foram as palavras que ele já falava e deixou de falar em um período de 10 meses. Foi como se eu tivesse sido transportada para outro planeta, o planeta azul, o planeta autista. A cor azul é associada ao autismo, pois a maioria dos indivíduos no espectro são meninos, embora haja discussões sobre a dificuldade de diagnóstico em meninas. Eu não tinha amigos com filhos especiais, não tinha referências de como lidar com essa situação, o que eu deveria fazer para ajudar no desenvolvimento do meu filho.”
“A maior dificuldade era a socialização, pois isso interferia em outros aspectos e atrasava seu progresso. O ser humano aprende por meio da observação e repetição, e se a criança não tem interesse pelo outro, ela não se desenvolve e fica presa em seu próprio mundo. A primeira coisa que fiz foi buscar um fonoaudiólogo. Lembro-me de uma pessoa que me ajudou muito, chamada Ana Flávia. Desabafei no Facebook, em um grupo de mães, e ela se ofereceu para conversar e me apoiar. Ela também trabalha com educação infantil e me indicou um fonoaudiólogo que trabalha com crianças autistas e utiliza a terapia AVA, que é uma abordagem comportamental para estimular o desenvolvimento da criança. Ela se tornou meu guia nesse processo.”
Texto extraído e adaptado da conversa com Carol Motta para o Ninho das Mães.